AWS e Infraestrutura on-premises

O retorno à infraestrutura on-premises em meio à concorrência com a AWS

Nos últimos anos, a Amazon Web Services (AWS) tem enfrentado um fenômeno inesperado: clientes que estão retornando à infraestrutura on-premises, ou seja, voltando a operar seus data centers próprios após migrações para a nuvem. Isso representa uma reviravolta significativa na narrativa de que “todas as cargas de trabalho, eventualmente, migrarão para a nuvem”, como a empresa acreditava no passado.

 

A flexibilização dos clientes da AWS

Em resposta a uma investigação conduzida pela Competition and Markets Authority (CMA) do Reino Unido, a AWS negou que seus clientes enfrentem dificuldades para migrar de volta aos seus próprios servidores. Para ilustrar essa flexibilidade, a AWS citou casos de empresas que optaram por deixar a nuvem para retornar à infraestrutura física em suas instalações.

 

De acordo com a AWS, o fato de empresas estarem dispostas a assumir o esforço significativo de construir e manter data centers próprios demonstra que elas consideram essa opção atraente. Isso, indiretamente, desafia a ideia de que a nuvem oferece uma vantagem clara e incontestável em termos de custo e eficiência.

 

Motivações para a migração de volta

A AWS também apontou que as empresas optam por repatriar suas cargas de trabalho para data centers locais por várias razões. Entre essas, destaca-se a possibilidade de:

 

  • Realoação de recursos financeiros internos: controlando melhor seus custos;
  • Maior controle sobre tecnologia: ajustando o acesso e a implementação de novas soluções tecnológicas;
  • Propriedade de recursos, dados e segurança: gerenciando mais de perto a infraestrutura e a segurança de dados.

 

Um exemplo de grande repercussão foi a empresa 37Signals (responsável pelo desenvolvimento da plataforma Basecamp), que tomou a decisão de retornar à infraestrutura física após receber uma fatura de US$ 3,2 milhões em hospedagem na nuvem. Em um ano, a empresa relatou economias de US$ 1 milhão após a migração.

 

Cloud Repatriation é uma tendência?

Embora a AWS tenha reconhecido essa mudança, ela também parece estar adotando uma postura estratégica frente às questões levantadas pela CMA. Segundo a empresa, apenas 29% dos clientes que abandonaram provedores de nuvem no Reino Unido optaram por voltar para o on-premises. No entanto, a AWS não forneceu dados específicos sobre quantos clientes fizeram essa mudança a partir de sua própria plataforma.

 

Andrew Buss, diretor sênior de pesquisas da IDC para a EMEA, afirmou que o fenômeno da repatriação de cargas de trabalho de nuvem (cloud repatriation) está se tornando mais comum, mas que ainda representa uma pequena porcentagem. Ele estima que o número de empresas que realmente repatriam cargas da nuvem pública está na casa dos “dígitos únicos”.

 

A realidade do mercado de nuvem

Apesar desse movimento de repatriação, Buss afirma que muitas empresas ainda preferem implantar suas cargas de trabalho em infraestrutura privada, com cerca de 12% priorizando a nuvem pública. Além disso, há uma tendência crescente em direção ao uso de infraestruturas de nuvem privadas padronizadas e prontas para uso, como Azure Stack, AWS Outposts e VMware Cloud Foundation.

 

Desafios e barreiras

O relatório da CMA também discute a dificuldade que algumas empresas enfrentam ao adotar um ambiente de múltiplas nuvens. Embora a AWS tenha, no passado, desencorajado o uso de várias nuvens, agora a empresa reconhece que oferecer suporte a essa abordagem é comercialmente vantajoso. No entanto, a AWS expressou preocupações em relação a possíveis propostas de regulamentação que facilitem a transferência de dados entre diferentes plataformas, alegando que isso poderia levar a padrões mínimos pouco eficazes.

 

Por outro lado, a AWS criticou a Microsoft por suas restrições de licenciamento na nuvem, particularmente em relação a aplicativos-chave. Também defendeu suas práticas de Acordos de Gasto Comprometido (Committed Spend Agreements), onde os clientes recebem descontos em troca do compromisso de uso contínuo, destacando que esses acordos ajudam a manter a previsibilidade da receita da AWS.

 

Conclusão

À medida que o debate sobre a nuvem e a infraestrutura on-premises evolui, fica claro que as empresas estão reavaliando suas necessidades de TI. Embora a nuvem continue a ser uma escolha popular, especialmente entre startups e empresas que buscam flexibilidade e escalabilidade, o custo e o controle oferecido pela infraestrutura local estão levando algumas organizações a reconsiderar suas opções.

 

O próximo relatório provisório da CMA sobre o mercado de serviços de nuvem está previsto para setembro ou outubro de 2024, com o relatório final esperado em abril de 2025. O resultado dessa investigação pode moldar o futuro do mercado de nuvem no Reino Unido e possivelmente, globalmente, à medida que mais empresas avaliam o equilíbrio entre a nuvem e suas infraestruturas físicas.

 

Fonte: https://www.theregister.com/2024/09/17/aws_cma_investigation/